A quadra ruim
- José Tejada
- 15 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Nesta semana estava realizando a minha corrida matinal diária, quando sai do asfalto e ingressei numa rua de paralelepípedo. Logicamente, todo mundo sabe que é muito mais confortável correr em uma superfície lisa como o asfalto.
O fato é que quando saio para correr, quase sempre a minha mente viaja, ou seja, não deixo de pensar em uma série de coisas; reflito sobre a minha situação atual pessoal, profissional, prioridades que preciso me dedicar no dia, planos para o futuro e assim vai.
Além disso, quando termino minha corrida, me sinto muito bem e parece que consigo pensar, com muito mais clareza, naquilo que tenho e preciso fazer.
Também, às vezes, quando percebo algo durante a minha corrida, minha mente viaja para algo relacionado a isso.
Por isso, quando entrei na rua de paralelepípedo me recordei da quadra de tênis em que treinei por um bom tempo com a minha equipe de alunos.
Essa quadra estava localizada na sede campestre da Sociedade Orpheu em São Leopoldo. Uma quadra que estava em volta de uma natureza simplesmente exuberante em todos os sentidos.
Porém, apesar desse entorno tão bonito, a quadra era, digamos assim, ruinzinha.
A primeira dificuldade é que não tínhamos água para molhá-la (a superfície da quadra era de saibro).
Também a quadra não tinha muito pó, o que a tornava um pouco perigosa, pois em uma quadra de saibro, o tenista pode e deve deslizar para chegar nas bolas mais difíceis.
Com o esforço do saudoso ex-presidente do Orpheu, Fernando Hauschild, o clube fez uma pequena represa em um córrego perto da quadra e colocou uma pequena bomba para puxar a água desse córrego.
Porém, a pressão não era a ideal, sendo que levávamos muito tempo para molhar a quadra. Inclusive no verão, quando terminávamos de molhar um lado, o outro já estava completamente seco (risos).
Para completar, a drenagem dessa quadra não era das melhores e, por isso, quando chovia, ficávamos alguns dias sem poder treinar, já que a quadra demorava muito para secar.
Porém, essa mesma quadra que apresentava tanto problemas, digamos assim, era um grande teste para toda a nossa equipe de tenistas, o que nos proporcionava uma grande vantagem nos torneios que jogávamos por todo o nosso estado.
O fato é que treinar numa quadra ruim para depois jogar numa quadra de boa qualidade é uma grande vantagem, sem sombra de dúvida. Em função disso, eu diria que, quase sempre, o nosso desempenho nos torneios era superior ao treinamento.
Como treinávamos na pior condição possível, no torneio estávamos preparados para jogar em qualquer quadra, digamos assim.
É como num treinamento físico. Precisamos treinar na pior condição, para estarmos preparados para qualquer demanda física no jogo.
Quando eu era jovem, realizava minhas corridas no verão, sempre perto do meio-dia, pois era a hora do pior calor, ou seja, se o meu jogo fosse ao meio-dia, eu também estaria preparado para jogar nessa temperatura.
Isso me fez refletir que assim é a nossa vida.
Inevitavelmente, teremos que enfrentar dificuldades que, de alguma forma, poderão nos tornar mais fortes (melhores) em muitos sentidos, por isso, sempre procure ver o lado bom das dificuldades (o que elas nos podem efetivamente nos ensinar ou fortalecer).
José Tejada
Professor universitário, psicanalista, escritor, palestrante e coach, jrcdteja@ucs.br, Https://jrcdteja.wixsite.com/meusite
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