Grêmio e o impossível.
- José Tejada
- 26 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Para relembrar os quinze anos da Batalha do Aflitos em 2005.
Como todo gremista que se preze, no último sábado à tarde, me posicionei em frente de minha televisão para assistir ao jogo do Grêmio, depois desse ano tão sofrido, onde jogamos, pela segunda vez em nossa história, uma segunda divisão para o deleite dos colorados que, sem dúvida nenhuma, também assistiram ao jogo, munidos com as suas “toalhinhas”.
Logicamente, pela tradição e retrospecto do Grêmio ele não faria mais do que a sua obrigação em trazer do Recife a classificação para a primeira divisão, lugar de onde, diga-se de passagem, nunca deveria ter saído.
O jogo como era de se esperar teve de tudo: deixaram o Grêmio trancado no vestiário que só teve acesso ao campo minutos antes da partida, aliás, o vestiário havia sido pintado no dia anterior e as suas janelas lacradas. Por isso, o Grêmio mal teve condições de fazer um aquecimento adequado para começar essa partida tão importante.
No desenrolar do jogo notei que o Grêmio não estava bem, inclusive o Náutico desperdiçou um pênalti no primeiro tempo. Diriam os colorados: é muita sorte.
Bem, o segundo tempo começa e o Grêmio continua mal, ou seja, presencio uma pressão enorme do time pernambucano em busca do gol que o levaria à primeira divisão, e nós nos defendendo de todas as formas até que, quando faltavam em torno dez minutos, o juiz marca, equivocadamente, diga-se de passagem, um pênalti contra o tricolor gaúcho. Como não poderia deixar de ser há muita reclamação de quase todo o time. E é justamente a partir desse momento, eu diria, o Grêmio começou a dar a volta por cima. Como, você vai me perguntar?
Notei que os jogadores do Grêmio estavam com os olhos vidrados, ou olhos de tigre como no filme “Rocky III”. Todos estavam indignados, não aceitavam o erro do Juiz. Tanto que levou muito tempo para o juiz conseguir que fosse batido o pênalti, mesmo depois de expulsar quatro jogadores gremistas de campo e dar mais um cartão amarelo por um jogador ter tirado a bola de sua própria mão. Nessa hora, pensei, o time vai ter mais um expulso por não permitir a cobrança do pênalti e o jogo acaba com meu time mais um ano na segundona.
Mas aí o comentarista falou: “O Náutico ainda não bateu o pênalti, mas mesmo que erre é impossível que o Grêmio resista a pressão com quatro jogadores a menos!”
Nessa hora pensei: Impossível? Será mesmo impossível?
O Náutico perde o pênalti. A vibração é geral e contagiante. O Grêmio vai a frente (somente com um atacante) e faz o “impossível”: um gol.
Bem, o resto da história vocês já conhecem.
Mas o que fica de lição é o seguinte: Primeiro, para um grupo unido e coeso, não existe impossível! O Grêmio, pasmem, jogou melhor com sete jogadores do que quando estava com o time completo, por que cada jogador sabia que tinha que fazer mais do que se esperava dele; cada jogador estava consciente que tinha que colocar um plus (algo a mais) em seu trabalho. Em quantas situações fazemos mais do que nos pedem ou é requerido?
Segundo, o Grêmio teve capacidade de indignação, não aceitou o erro do juiz e quantas vezes aceitamos passivamente tantas coisas em nossas vidas (relacionamentos, empregos, chefes incompetentes, etc.). Reparem a nossa grave crise política e social que atravessa nosso país e a nossa reação perante tudo isso.
Terceiro, o time estava sobre uma pressão terrível e conseguiu dar o seu melhor naquele momento. Na nossa vida é assim mesmo. Temos que fazer a diferença quando as dificuldades são imensas, quando as pessoas realmente precisam de nós. E geralmente qual é a nossa reação?
Quantas vezes acompanhamos, até o fim, os enterros ou só damos uma “passadinha” no velório?
Quarto, o Grêmio soube tirar proveito da dificuldade. A dificuldade promoveu uma união nos que ainda sobravam em campo que superaram em muito seus limites individuais em busca do objetivo (O Grêmio somente precisava empatar). De outra forma, a dificuldade, nos ensina muito e quando superamos as mesmas nos tornamos mais fortes e também, por que não dizer, melhores seres humanos. É interessante frisar que quando o Grêmio caiu pela primeira vez da segunda divisão em 1992, três anos depois conquistava novamente a Libertadores da América. Será que foi coincidência? O que precisa ficar claro é que na nossa vida sempre existirão derrotas, o que faz uma pessoa ter sucesso é saber aprender com suas derrotas. Na verdade, a derrota nos ensina muito mais do que a vitória.
Quinto. O grupo precisa de talento. Analisem o gol do Grêmio. O jogador pega a bola da lateral (sozinho) passa por quatro jogadores e desvia do goleiro. E reparem que ele estava no banco. Isso mesmo, o treinador o havia colocado no banco. Quantas vezes não damos valor aos talentos de nossa organização e acabamos prejudicando muito a mesma por isso?
Sexto, o Grêmio mostrou que um grupo motivado pode alcançar um resultado fabuloso, mesmo não sendo muito capacitado. Mesmo sendo gremista reconheço que meu time somente possui jogadores, na melhor das hipóteses, medianos com exceção do Anderson.
E qual time da primeira divisão, eu pergunto com quatro jogadores a menos, na casa do adversário e com um pênalti contra faltando dez minutos para o jogo terminar seria capaz de vencer?
Algumas vezes, cito em minhas palestras um pensamento de Roosevelt que diz: “Um homem jamais será derrotado a não ser que ele desista!”.
Finalizando, espero que você meu prezado leitor, mesmo colorado, se inspire no exemplo dado pelo Grêmio no último sábado.

José Tejada
Professor universitário, escritor, palestrante e coach, jrcdteja@ucs.br, Https://jrcdteja.wixsite.com/meusite
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