O segundo lugar!
- José Tejada
- 22 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Comecei a jogar torneios de tênis com nove anos de idade e “aprendi”, desde cedo, que o segundo lugar é quase o último. Verdade! De outra forma, o tênis me “ensinou”, que o importante é sempre tentar, de todas as formas, vencer. Todo o tenista de competição sabe que a vitória é o que mais interessa, em última análise.
Acredito que por isso, alguns “tenistas” fazem de tudo para vencer, ou seja, não se importam em trapacear ou como se diz na gíria do tênis, “roubar” as bolas que puderem em uma partida, para obter a tão sonhada vitória. Alguns inclusive, “roubam” bolas até em treinamentos, onde não está em jogo qualquer troféu, imaginem só?
Para contextualizar, certa vez, estava jogando um set com um conhecido “baloneiro” de meu clube. Ele só jogava na defensiva (somente devolvendo as bolas) e, quando atacado, somente era capaz de levantar as bolas (dar os seus conhecidos balões). Aliás, que jogo mais chato e irritante. Naquele dia, eu confesso, não estava jogando muito bem e, uma hora, fiquei muito desconfiado de determinada bola que me pareceu boa, mas ele disse que era fora!
Quem já jogou comigo sabe que não costumo conferir bolas na quadra do adversário, nem mesmo em torneios (acho muito chato). Porém, naquele dia atravessei a quadra para ver a tal bola. Quando cheguei ao fundo da quadra, vi uma marca bem antes da linha de fundo. Olhei para a cara desse “baloneiro” e falei: Olha aqui! A bola foi boa!
Ele me olhou meio desconcertado e ainda teve a coragem de dizer: É que o jogo está difícil!
Santa cara de pau! Pensei com os meus botões! Voltei para o meu lado indignado. Mas acho até que foi melhor, pois toda aquela raiva acabou me motivando sobremaneira e o meu desempenho melhorou muito. Nem preciso dizer que, depois do ocorrido, ele quase nem viu mais a bola naquele treino (risos)!
Agora imagine em campeonatos o que pode acontecer?
As artimanhas usadas por alguns “tenistas” que não prezam por sua integridade são as mais variadas e criativas, eu diria. Isso, talvez, dê uma ideia de como os atletas de competição são pressionados, de todas as formas, por resultados (vitórias). Logicamente, isso também acontece nas organizações atuais. O resultado, em última análise, é que define o sucesso de uma organização e ponto final!
O cuidado que temos que ter, tanto nas organizações, como na quadra de tênis, é que sempre a questão ética deve prevalecer. Uma vitória só é inquestionável (merecida) se for obtida com lisura, essa é a verdade!
Nas organizações, um aumento na participação de mercado só é legítimo se a empresa mantiver a sua integridade (tradução de seu discurso em ação ou comportamento).
Meu pai sempre me cobrou isso! Ele sempre dizia: Podes perder o jogo, isso faz parte da competição, mas nunca perca a tua integridade, meu filho!
O mais complicado é que a nossa cultura só aceita o primeiro lugar! Verdade! Ou o tenista é o campeão ou simplesmente não conseguiu o título. No futebol é a mesma coisa aqui no Brasil.
Isso eu senti na pele, quando perdi minha primeira final em um torneio estadual. Se não me falha a memória, eu já havia ganho cinco ou seis finais (estava invicto), quando veio essa derrota. Confesso que foi extremamente dolorido para mim.
A verdade é que, diversas vezes, perdi nas oitavas, quartas, semi, mas perder aquela primeira final foi quase o fim do mundo (risos). Parece que o meu adversário tinha conseguido liquidar com toda a minha autoestima como tenista. Eu pensava, equivocadamente, que chegar tão longe num torneio e perder numa final era simplesmente desalentador em todos os sentidos, independentemente do meu desempenho em quadra ou de minha campanha nesse torneio.
Logicamente, com o passar do tempo, vi que eu estava completamente equivocado. Na verdade, o grande competidor (campeão) é aquele que compete com si mesmo, tentando sempre se superar em matéria de desempenho. Hoje, percebo, com muita clareza, que a melhor competição deve e precisa ser a interna.
Nas organizações precisamos estar muito cientes disso, antes que o ambiente seja tomado pelos enormes egos e vaidades, buscando objetivos pessoais (receber os méritos), em detrimento dos objetivos organizacionais (trabalho em equipe).
O fato é que quando eu sei que desempenhei no meu limite, eu tenho uma grande paz de espírito, ou seja, quando eu sei que fiz o meu melhor, isso me parece quase o mesmo que a vitória!
Em função disso, hoje, não mais considero um segundo lugar como o último (fim do mundo), mas preciso dizer que, várias vezes, tive uma grande vontade de pegar todos os meus troféus de vice-campeão e jogá-los simplesmente pela janela (risos)!

José Tejada
Professor universitário, escritor, palestrante e coach, jrcdteja@ucs.br, Https://jrcdteja.wixsite.com/meusite
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