Preguiça institucionalizada!
- José Tejada
- 16 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Desde pequeno sempre eu fui muito ativo, de outra forma, a preguiça nunca conseguiu chegar muito perto de mim para a minha grande sorte, eu diria (risos).
Na verdade, desde a minha infância, o tênis já tinha me ensinado que se eu quisesse ter algum sucesso como tenista, nunca poderia ser preguiçoso em nenhum aspecto (tanto nos treinos e, muito menos, nas partidas de campeonato).
No ambiente profissional nem se fala, um profissional de ponta não pode ser nenhum pouco indolente, essa é a verdade!
Porém, em algumas organizações incompetentes, a preguiça simplesmente é institucionalizada, ou seja, é a sua marca registrada exemplificada vigorosamente pela chefia.
Nesse tipo de organização, levantar a bunda da cadeira exige um esforço hercúleo (sobre-humano) de cada colaborador. Nesse ambiente, fazer o mínimo possível é sempre a regra a ser seguida. É a famosa lei do mínimo esforço! Logicamente, nesse contexto, a desmotivação é mais contagiante do que a Covid 19 (risos).
Agora, se por acaso, alguém motivado, ingressar nesse tipo de organização, com certeza, com o tempo, a sua motivação escorrerá também pelo ralo. Mais do que isso, o grupo de trabalho cobrará o mesmo comportamento do novo integrante do grupo, pois como escrevi acima, a preguiça está institucionalizada e isso não pode ser em hipótese alguma ser desrespeitado, além disso, existe um controle informal do grupo quanto ao padrão de comportamento seguido (fazer o mínimo sempre).
Nesse contexto, é obvio que a chefia é o grande exemplo de preguiça e proatividade zero, afinal, a equipe, quase sempre, é o espelho da liderança, nesse caso, da chefia.
Em função disso, o clima organizacional será baseado na lei do mínimo esforço, ou seja, cada um se economiza como pode, fazendo sempre o mínimo possível (todos estão “sepultados” em sua zona de conforto).
Para exemplificar: certa vez entrei em contato com o gerente de meu banco. Trabalho com dois bancos públicos. Nesse banco em questão, a partir de certa pontuação, o cliente ganhava a isenção de tarifas. Como meu saldo médio tinha baixado, pois estava investindo para finalizar meu apartamento, acabei por uns meses não sendo isento mais da tarifa de manutenção da conta desse banco. Terminando de mobiliar meu apartamento, meu saldo médio voltou a crescer nos meses seguintes.
Num determinado mês atingiu 199 pontos, sendo que a isenção começava a partir de 200 pontos. Liguei para o meu gerente e perguntei se o Banco não poderia me isentar dessa tarifa, pois faltava apenas um ponto e eu tinha um longo relacionamento com o banco (mais de 20 anos).
Ele me disse: Não tem como. O sistema é travado e não consigo mexer. Pensei: Ok! Porém, como não fiquei satisfeito com essa resposta, liguei para a ouvidoria e relatei o meu problema. Reparem: não demorou vinte minutos, para que aquele mesmo gerente (cara de pau e preguiçoso, diga-se de passagem) me ligasse e me dissesse que eu estava isento da tarifa (risos).
Pois é; pensei, sempre é mais fácil dizer não e não tirar a bunda da cadeira para resolver algum problema do cliente. Esse funcionário público deve ter pensado “com os seus botões”: Para que correr atrás? Afinal, tenho estabilidade nesse banco e nem vou ganhar mais com isso.
Outro exemplo foi em uma instituição de ensino em que trabalhei, o coordenador de curso recebeu uma aluna que queria mudar de curso e aproveitar umas disciplinas nesse curso novo. Esse coordenador disse que não tinha como aproveitar nenhuma disciplina. Reparem que ele nem mesmo solicitou ou fez um estudo de currículo do curso dessa aluna para analisar as ementas das disciplinas cursadas no curso anterior. Resultado: essa aluna acabou indo para outra faculdade e se formando lá, onde várias de suas disciplinas foram aproveitadas depois de um estudo de currículo feito pelo coordenador dessa instituição. Esse é mais um exemplo de mínimo esforço e de pensar que vale mais a pena dizer não e não fazer nada do que se dar o trabalho de ir atrás para resolver o problema de alguém.
Triste, mas muito frequente em organizações, onde a preguiça está institucionalizada e a acomodação simplesmente tomou conta de tudo, ou seja, de uma organização que preza, na verdade, pela incompetência de uma forma geral.
E o pior! Num ambiente desse tipo, somente os mais bajuladores e puxa-sacos ascenderão na hierarquia organizacional, pois a ojeriza à competência e ao talento também está institucionalizada, ou seja, falar sobre meritocracia nesse contexto será considerado uma verdadeira heresia em todos os sentidos!

José Tejada
Professor universitário, escritor, palestrante e coach, jrcdteja@ucs.br, Https://jrcdteja.wixsite.com/meusite
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