A quietude do piloto
- José Tejada

- 29 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Sempre, de certa forma, quando estou viajando, gosto de analisar a comunicação do piloto da aeronave.
Logicamente, as personalidades das pessoas são diferentes, por isso, analiso sempre a entonação da sua voz, afinal a competência do piloto, além de seu estado de ânimo, para que possamos chegar ao nosso destino, com conforto e segurança, são muito importantes.
O fato é que, a maioria dos pilotos, é muito objetiva (formal) na sua comunicação, muitas vezes, não demonstrando muita emoção na sua fala, o que é compreensível pela sua responsabilidade, pois um piloto precisa de muita frieza, em alguns momentos, como quando o avião estiver algum problema em voo, numa decolagem, ou mesmo, quando está aterrissando.
Nas minhas últimas férias, voando pela Amaszonas de Santa Cruz de la Sierra para Sucre na Bolívia, me chamou a atenção a comunicação do piloto. Ele disse, com muita naturalidade, que o tempo estava bom em Sucre, informou a duração do voo e disse que poderíamos enfrentar alguma turbulência na aterrisagem, mas nada para se preocupar. Eu notei na sua voz que o voo seria muito tranquilo, apesar da questão da turbulência na aterrisagem. Na verdade, o piloto me passou muita confiança na sua fala e, por isso fiquei, muito tranquilo.
Nossa aterrisagem foi um pouco brusca, é verdade, mas cheguei com segurança em Sucre, o que é o mais importante.
Na volta de Sucre para Santa Cruz de la Sierra, de novo, embarquei no Embraer 190 da Amaszonas.
Estranhei que, durante todo o voo, o piloto não se comunicou em nenhum momento com a tripulação. Somente no início do voo, o comissário falou o que é de praxe em qualquer voo (normas de segurança, tempo de voo, etc.).
A verdade é que sempre ouvi dizer que a qualidade de um piloto de avião é realmente testada na aterrisagem.
E a nossa aterrisagem em Santa Cruz foi de uma suavidade incrível. O fato é que, quando me deparei, o avião já estava em solo. Que aterrisagem excelente sob todos os aspectos!
Isso me chamou muito a atenção. Fiquei aguardando o avião taxiar, esperando que o comandante falasse algo, mas, incrivelmente, ele não disse nada.
Isso me surpreendeu sobremaneira, pois nunca em um voo eu tinha presenciado isso, ou seja, um comandante que não falou em nenhum momento com a tripulação!
Porém, apesar disso, esse comandante mostrou sua inegável competência e expertise. Aliás, ele me lembrou um ditado dos SEALS americanos que é: “O nosso trabalho não precisa de reconhecimento e divulgação, pois ele fala por si próprio!”
E, no fundo, é isso o que mais importa, ou seja, fazer um trabalho com excelência, não esperando qualquer aplauso ou reconhecimento em troca, pois um trabalho excelente é inquestionável.
Por isso, no final das contas, fiquei admirado (agradecido) com o comportamento desse piloto que fez, com certeza, a diferença nesse voo, mesmo sem ter falado sequer uma única palavra.

José Tejada
Professor universitário, psicanalista, escritor, palestrante e coach, jrcdteja@ucs.br, Https://jrcdteja.wixsite.com/meusite






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